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domingo, 25 de maio de 2014









O CAMINHO DA TERRA DE MARIA CARDOSO

Não! – não importava quanto chão de terra batida ainda restava para que os primeiros casarios do Bichinho surgissem...
O estradão com seus calhaus, mata-burros, porteiras e cercas de arame farpado, alimentava nosso corpo e nosso espírito, atenuando a fome e o cansaço...

Seu desenho serpenteado, ladeado pelos tapetes esverdeados de seus montes enchia-nos os olhos de satisfação...
Em seu derredor a imponente Serra de São José parecia abraçar todo aquele relicário, espocando um verde escuro aqui, outro mais claro ali e um quase amarelado lá na frente... Que maravilha era a estrada que nos conduzia à terra de Maria Cardoso...

Ipês roxos, amarelo, rosa e branco; flamboyants vermelhos, quaresmeiras... as touceiras de bambus a se postarem em reverência pela nossa passagem e o gorjear do sabiá-laranjeira a querer sobrepor o de tantos outros amigos alados:

Pica-paus, pássaros-pretos, tico-ticos, canarinhos, 
coleirinhas, sanhaços e pintassilgos...

Ahhh como era prazeroso caminhar por aquelas vielas bucólicas do coração das matas e entrecruzarmos com seus operários – caipiras natos – seres de vivência humilde... Homens e mulheres cuja simplicidade não lhes tirava, de forma alguma, a sabedoria de vida.

Sobre os leitos de regatos cristalinos, em inextricáveis galhadas múltiplas, os arvoredos e água se transubstanciavam em criaturas una, num cântico de louvor à vida em abundância...

Quando todas essas belezas iam ficando para trás outras belezas iam assumindo o espaço de nossas visões. O Bichinho começava a se apresentar a nós com toda a sua magia: 

galos, patos, porcos e perus; cães e cavalos; bois e seus carros...
Pessoas e animais a conviverem em uma liberdade jamais vista em outros arrabaldes...

A parada era a casa de Tia Emília e Tio Nivaldo...

Enquanto Tia Emília corria ao forno à lenha que ficava no quintal a fim de assar os pães de queijo, biscoitos de polvilho e broas de fubá - broa com o fubá de moinho d’água e coalhada de leite puro, das vacas do curral, Tio Nivaldo trazia da VENDA que possuía o vinho tinto e o queijo minas e do quintal vinha com a melhor galinha para o preparo do “frango ao molho pardo”...

  
Sim! – agora importava quanto chão de terra batida ainda restava para que os primeiros casarios do Bichinho fossem se definhando ao longe... O estradão com seus calhaus, mata-burros, porteiras e cercas de arame farpado ia levantando uma cortina de poeira, fechando mais um ato feliz de nossas vidas...

FERNANBAS – Outono de 2014 


segunda-feira, 5 de maio de 2014

SONETO BUCÓLICO





Soneto Bucólico

(materializando no presente o passado 
antigo do “Arraial de Bichinho”)

A cada manhã rosicler por aquelas matas
reinicia-se o milagre da singela poesia lírica 
capaz, até, de tocar pessoas insensatas.

Entretanto, segundo a sabedoria empírica
transfigura-se nas rosáceas manhãs gratas
e por onde quer que porventura andamos
(aquarelando copas, tingindo galhos e ramos
de rosas) a mais adorável deidade literata.


É vático predizer, além dos encantos extremos,
advir de seu anel ornado com pedra thulita 
o lume mais brilhante das luzes que enredemos
aproando imaginárias rotas Norte-Sul, Leste-Oeste
e relumbrado nas flores do mato onde orbita
os olores e sabores agridoces de frutas agrestes.

MadamadaM