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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

AS ABELHAS, A SANTA, OS MÚSICOS E OS SOBRINHOS


 

       





   Já caia a noite no Bichinho quando Zé Kalanga - aquele neguinho lá das bandas do Gritador, que tem morada perto do pé do Cruzeiro de Nosso Senhor Jesus - Cristo - chegou num burrico – coitado, todo estropiado! - e apeando-se foi indo logo para a venda do Nivaldo, toda alumiada à lamparina, doidinho para embuchar uma manguaça pra modo de espantar os maus espritos - que segundo ele – vinham na garupa do Boneco, o burrico.
         Adentrou pela venda mascando um pedaço de fumo de rolo e cuspindo pelo chão de cimento pintado com Vermelhão:
_ Boas noite sô Nivardo, cumpade Bento, Zé do alambique, Jão isqueiro e Mané do Lalau.
- Noite, Zé Kalanga!
Responderam os cumprimentados.
_ Sô Nivardo põe um rabo-de-galo caprichado aí pra nóis!
Pediu e procurou logo um tamborete para poder sentar e esticar as canelas. As botas, sujas de barro iam deixando suas marcas no recinto. Às vezes, caia até em pedaços.
_ Ô pessoar a istrada tá num puerol só e óia, com aquela chuvinha mansa que deu transantonte tem lama pra tudo qui é lugar. O jipe que o Sô Nivardo vai pegar os trem lá em São João pra mode de vender aqui foi fazendo marca qui nem tratô de istêra, hehehe… Êta, sô Nivardo!

Enquanto Zé Kalanga prosseguia no seu falatório, Nivaldo ia pegando a pinga temperada com gengibre, canela e cravo-da-índia e dando uma misturada com jurubeba para fazer o tal rabo-de-galo. Ia colocando no copo e olhando para os olhos do Zé.
_ Tá bão ansim, Zé? Ou vai inté a marca?
_ Pode pô inté a marca, sô Nivardo. Pruveita e me dá um pedaço daquela sarsicha de porco qui tá pindurada atrais das pele ali, ó!
As salsichas ficavam penduradas num pedaço de pau suspenso por arames que eram presos ao teto. Nivaldo pegava uma banquetazinha para subir e com a faca cortar um pedaço delas. Próximo das salsichas, ficava também uma tábua – colocada do mesmo jeito – com vários queijos. Alguns eram frescos, outros já estavam mais maduros e outros já estavam bem curados: estes eram bons para ralar e colocar em macarronada. A Venda de Nivaldo, na verdade um micro-armazém, tinha de tudo um pouco: gêneros de primeira necessidade como: arroz, feijão, fubá processado em moinho d´água lá das bandas de Fervedouro – um lugarejo próximo -, milho, açúcar. Tinha também um refrigerador que funcionava a base de um gerador de energia e que continha cerveja, refrigerantes, vinhos. Tinha fumo de rolo e palha para enrolar o cigarro. Tinha lamparina e um enorme latão de querosene com um funil adaptado e uma torneira: você fazia pressão com uma bucha enfiada dentro do funil – bombeando várias vezes – até o querosene vazar na torneira do latão e encher os recipientes que os fregueses levavam. Um rádio bem antigo funcionava sempre na estação da Rádio São João AM – sempre no Programa do Cumpadre Vieira – com a antena esticada de um lado a outro da parede, parecendo mais um varal. Balas e doces para as criançadas; torresmo e mandioca para a alegria de gente como o Zé Kalanga. Nos fundos da Venda do Nivaldo ficava o seu imenso pomar que os sobrinhos dele adoravam quando vinham de férias de São João e do lado ficava a sua casa – casinha boa, com vários quartos que era para poder receber as visitas. Emília, a esposa de Nivaldo era craque na cozinha.
 Fazia um frango ao molho pardo que não sobrava nem ossos pro cachorro – que, aliás, também se chamava Boneco.   Ela também cozinhava o sangue da galinha e colocava lá na venda para servir de tira gosto – nossa, bom demais!

         Isso se passava numa segunda-feira e no domingo havia tido a festa de Nossa Senhora da Penha de França – a padroeira do arraial. No adro da igreja a banda vinda de Prados alegrou os crentes de Nossa Senhora da Penha até que um acontecimento sinistro interrompeu a festa e foi motivo de notícia em Tiradentes, Prados e São João Del-Rey/MG.

_ Ô sô Nivardo tão dizendo para tudo lado aí que os negócio das abeia foi coisa dos subrinhos do sinhô.
Disse Zé Kalanga, dando um trago na marvada e olhando para os companheiros Bento, Zé do Alambique, João Isqueiro e Mané do Lalau.
Zé Kalanga salivava o rabo-de-galo e mordiscava a salsicha de porco, esperando a manifestação dos outros.
_ Ah isso é cunversa fiada sô… Qui qui os meus subrinhos tem de ver cum isso que aconteceu aqui? Hein?! Os mininos tumem sairô tudo correndo qui nem tudo mundo de lá da Igreja, uai!
_ Sei não cumpade mais o falatório é que foi memo os seus subrinhos.
Completou João Isqueiro, acrescentando:
_ Óia, eu tavo lá em cima, perto da porta da Igreja, quando tudo começou: Um de seus subrinhos veio correndo pelo corredor isquerdo da Igreja com uma cara de riso danada sô! E aí incontrô com os outros tudo e todos eles ficaram em pé perto das iscadaria da Igreja. Eu lembro que as cadeira foi colocada uma do lado das ôtras pra mode de os músico poder tocar os seus instrumento. O gordão do trombone ficou lá no fundo, na urtima cadeira.
_ É eu vi isso tumem, cumpade.
Arrematou Mané do Lalau, continuando:
_ De repente o gorducho do trombone levantou da cadeira e começou a passar a mão no cabelo com o seu pentinho de bolso com uma pressa danada, sô… parecia que ia inté arrancá os cabelo… Inté antão eu num sabia o qui qui tavo acontecendo e fiquei a ispiá. Antão foi qui eu vi os minino descer pelas iscadas correndo qui nem curisco. Quando eu oiei pra riba – minha Nossa Sinhora da Penha! Eu só via as abeia vuando pra riba de tudo que era gente. E antão cumeçou tudo.
_ É, nessa hora eu tavo passando pela rua e tinha uma Kombi parada perto das iscada da Igreja.
Acrescentou, Zé do Alambique.
_ E eu vi, cumpade Nivardo, os músico tudo largá os seus intrumento pro chão e as abeia em riba deles e eles tudo gritando: ai, ai, code aqui, code aqui, ai, ai! Inté que um deles conseguiu abrir a porta da Kombi e tudos os ôtros intraram de galope pra dentro com as abeia indo junto. Uns já tavo com as cara bem inchada. Aí eles fecharam os vridros e ficaram quietinhos lá.
_ Pois é, mais o pessoar que tinha ido lá pra missa tumem sofreram muito. Era véio, criança, mué e homi correndo pra tudo que era lado, sô, com as abeias correndo atrás.


Disse Bento, que continuou:


_ Coitado do nhô Bastião… eu passei correndo perto dele e ele gritava: code qui fio, code qui… tá duendo fio, code o véio aqui fio… Cumé qui eu pudia cudí o nhô Bastião se as abeia tavo tudo de riba de eu tumem sô? Levei picada pra tudo qui foi lugar inté qui consegui intrá pra dentro da casa do nhô Zizinho. As rua daqui do Bichinho ficou qui nem de lugar mar assumbrado… num tinha uma viva arma andando pelas ruas, só as abeia vuando e querendo intrá nas casa. Sinhora da Penha, Sô Nivardo, as coisa ficou braba. Lá no ponto do ônibus de Tiradentes tinha uma fila de gente machucada: umas tinha os óio inchado, ôtras tavo com os beiço inorme, ôtras com as buchechas mais parecendo umas muranga de tão vremeias, as canela duns homi tava que era puro inchaço e os cabelo das mué tavo tudo pra riba, parecendo qui elas tinham visto fantasma, sô! Tudo mundo capenga… cada um pior qui os ôtros! Sinhora da Penha!
_ Pois é… nessas horas aí que ocês falaram os meu subrinho já tavo tudo em casa tremendo de medo tumem, uai!

Saiu Nivaldo em defesa dos sobrinhos.

         A verdade é que o episódio ficou conhecido como “As Abelhas Assassinas do Bichinho”.  E tudo por causa de uma colméia que havia dentro do adro da Igreja de Nossa Senhora da Penha de França. Com o barulho estarrecedor da banda, vibrando alto e em bom tom, a colméia se desprendeu – não me perguntem como, porque eu não sei - do galho de uma árvore e aí aconteceu o (in)esperado. Nós, os sobrinhos de Nivaldo, nada tivemos com a história não. O fato de nos terem visto vindo pelo corredor esquerdo da Igreja é que ali nós já percebíamos o que iria acontecer e preparávamos para correr. Não deu nem pra ver onde estava todo mundo na hora. Nesse dia, além de nós sobrinhos – eu e Sérgio – haviam ido conosco Hugo, Beto, Guininho e o Frigo. Cada um saiu como pôde, porque o negócio tava feio mesmo – eu nunca vi tanta abelha assim. Todos saíram em disparada. Eu coloquei sebo nas canelas e voei até a casa do Tio Nivaldo com algumas picadas, depois chegaram o Sérgio, o Guininho e o Frigo. O Hugo foi aparecer nos fundos da horta do Tio Nivaldo – nem ele sabe explicar como - atravessou um riacho e entrou correndo pelos fundos do pomar gritando: _ “abram as portas, abram as portas!!!”. Foi conta de destrancarmos a tramela e ele entrou derrubando quase tudo com o coração batendo a mais de mil por hora.
         Quando chegamos a Tiradentes para pegarmos o ônibus para São João Del-Rey/MG, o cenário realmente era trágico. Muita gente picada e resmungando: _ “Foi aqueles incapetado dos subrinho do Nivardo, forum eles sim!”
         Tratamos de pegar o ônibus bem discretamente e quando conseguimos entrar e o ônibus deu partida não podíamos olhar para a cara um do outro porque não conseguíamos segurar o riso e tinha muita gente com a cara amassada olhando – bem, olhando não é bem o termo né, porque estavam que nem japoneses.

        No outro dia, foi manchete do Jornal do Poste:

 “Abelhas atacam população do Bichinho em Festa de N. S. da Penha”
        

     Até hoje se comenta que fomos nós, mas realmente não tivemos nada a ver com o desastre abelhistíco.   



FERNANBAS
Novembro - Primavera de 2011

16 comentários:

  1. Parabéns Fernando, por mais este "portal" de prosas, causos, versos, imagens etc...
    Gostei !
    Agora entendi a razão de Vc ter abandonado o Fórum dos Aposentados,que só dava dor de cabeça.
    Este espaço só traz alegria é bem mais gratificante que lutar pelos nossos direitos, afinal tem gente pra fazer isso, né?
    Siga em frente!
    Em breve teremos um ou mais livros nas livrarias....avise do lançamento, tá ?
    abração
    Myrinha Vasconcellos

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  2. Myrinha, quem bom tê-la aqui nas terras do Bichinho. Bom mesmo!
    Com relação ao nosso Fórum dos Aposentados da Caixa eu realmente dei um tempo. Um tempo de descanso pelos desencantos. Tempo para sorver e digerir a verdade inconteste de que são - verdadeiramente - apenas uns poucos que se jogam de verdade na defesa da manuntenção de nossos direitos já conquistados e na luta pela sacramentação de nossas prioridades outras, nossas reivindicações as mais justas. Mas - como canta o indescritível gênio de nossa MPB - Chico Buarque: "(...)Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto
    Eu to voltando...(...)".

    abs Ternos - Fraternos & Eternos,
    Fernanbas

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  3. "In Perpetuam Memoriam"

    Sim por toda a minha vida, eu guardarei em minha memória essa querida estância da minha infância.



    SIM, HÁ LUGARES QUE LEMBRAREMOS

    TODA A NOSSA VIDA.

    EMBORA, ALGUNS TENHAM MUDADO...

    (William Shakespeare)




    Abraço,
    MadamadaM

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  4. Querido Fernando,ler seus textos é sempre uma delícia. E fico muito feliz ao ver que você decidiu oficiliazar e socializar seu talento, criando um blog. AS pessoas que possuem este dom não podem conservá-lo só para si. Boa sorte e sucesso. Um grande beijo.
    Pricila

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  5. Muito obrigado, minha amiga e Rainha Pricila. Suas palavras têm um peso enorme pra mim - você sabe disto. Você sabe que eu a admiro muito e tenho muita gratidão por sentir-me muito a vontade em confidenciar-lhe passagens de minha história. Obrigado pela visita e não suma não!

    abs Ternos - Fraternos & Eternos,
    Fernando

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  6. Adorei muito ter lindo seus textos e ter te conhecido atravez de minha prima Marcia tb bancaria da Caixa.O q me chamou atencao no seu fecebook foi mostrar a cidade de Bichinhos.Eh uma cidade q me encanta pela sua simplicidade e muito rica em artesanatos... Amo aquela regiao onde o romantismo paira por la....Parabens gostaria de ler mais causos escritos por vc ....

    Kero

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  7. Obrigado Kero pela sua participação aqui nesta casa genuinamente Mineira. O Bichinho é realmente mágico... repleto dos ingredientes para aliviar nossos espíritos da tensão do dia a dia. Muito verde, trilhas, serras e montanhas e... muita arte! Em todas as suas vertentes. É realmente um lugar onde o Romantismo borrifa o seu perfume.
    Tenha a certeza de que você lerá muitos outros causos. Minha infância e preadolescência foram vividas ali... em minha memória há um manancial de recordações clamando para virarem letras digitalizadas.

    Gostaria de lhe pedir Kero que multiplicasse a sua visita entre os seus afins. Quero que o Blog O BUCÓLICO BICHINHO bombe na Net. Será uma grande realização pra mim, exaltar a Terra de Maria Cardoso(minha mãe) - minha estrela maior - e poder ser lido por um sem número de amigos.

    Abraços Ternos - Fraternos & Eternos
    Fernanbas

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  8. Bom dia....legal,nao esperava uma msg sua,muito obrigada por este espaco q hj tenho o prazer de entrar e de ler bons textos....vou tb divulgar....um abraco

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  9. Ah mande um grande abraço na minha querida prima Marcia ai de kata...amo esta cidade e as pessoas q ai moram....

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  10. Participe sim - sempre! - Kero deste espaço que pretente ser o repositório dos ventos bucólicos. Será sempre motivo de alegria ter sua presença aqui, como também de seus afins.

    A Márcia é uma grande amiga minha. Geminiana autêntica, que aliás nasceu no mesmo dia e mês que eu: 29 de Maio. A gente se gosta e se respeita muito. A Márcia sempre foi uma grande amiga que sempre me motivou a publicar os meus escritos e condensá-los em livros.

    Pode deixar que darei o seu abraço nela.

    abs Ternos - Fraternos & Eternos,
    Fernanbas

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  11. Fernanbas,
    a sua história é muito boa, muito divertida. E você me fez lembrar de um bom livro – “As aventuras de Tom Sawyer”, de Mark Twain – que eu li há muito tempo.

    Mesmo antes de ler Mark Twain, eu sempre pensei que toda criança devia ter a chance de ser como foi o menino Tom Sawyer (....”ou eu brinco pra valer, ou eles escolhem um amigo mais divertido...”). Ele foi um menino que nem pensava se queria crescer. Porque aproveitava a infância brincando.

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  12. Desculpe Fernanbas,
    esqueci de finalizar e me despedir de você, meu caro bardo. Fiquei empolgado com a sua história e com lembranças da história de Mark Twain “As aventuras de Tom Sawyer”


    Abraço,
    The Visitor

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  13. Obrigado meu caro The Visitor.

    Boa comparação!,

    abs Ternos - Fraternos & Eternos,
    Fernanbas

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  14. Jornal do Poste - Prosopopeia ou Uma Boa ideia
    (The Visitor)


    Pra não ofuscar
    As boas primícias
    Bolaram o lugar
    Pra expor notícias:

    Fixar nos postes
    Fatos e ideias,
    Elegias e odes,
    Receitas e panaceias.

    E nos postes das esquinas,
    Há de imaginar a vinheta:
    “Abelhas Assassinas” -
    Na capa duma gazeta.

    O tablóide tragicômico
    Pôs um sujeito em perigo,
    Por causa do seu riso sardônico
    Estimulado ao ler o artigo.

    Hem? Seria ele o malfeitor?
    A questão virou uma piada,
    Porque o pseudo-apicultor
    Exibia no pescoço uma picada.

    “A vida não é o que a gente viveu, e sim o que a gente recorda, e como recorda para contá-la”.
    Gabriel Garcia Marques

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  15. The Visitor - os sobrinhos do Nivaldo leram em grupo o artigo do Jornal do Poste, hehehehehe... Uma estratégia usada, já que é comum em D'el-Rey, ler o JORNAL DO POSTE em pequenos grupos de pessoas.

    Digo que por um bom tempo tivemos que andar pianinho nas regiões limítrofes ao Bichinho, já que em TIRADENTES - PRADOS e SÃO JOÃO nossa fama estava NAS ASAS e NOS FERRÕES DAS ABELHAS, kkkkkkkk

    abs Ternos - Fraternos & Eternos,
    Fernanbas

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  16. Revolução dos Bichos.
    (adaptação da música – Revolução dos Bichos)

    Oh, Ana Maria!
    Quanto bicho no quintal!
    Veja só, quanta folia!...
    Corre e espia que espiar não faz mal

    Bicho assim só se vê na televisão
    Dizem que há algo na floresta
    Correm boatos de que é uma revolução
    Que os bichos fizeram a festa.

    Parece que os bichos vão falar... Isso cheira agitação!
    Sapos em festa é canto de guerra!
    – Silêncio! Pede a palavra o Rei Leão
    E tudo se cala desde a planície à serra

    — Como rei dos animais eu digo:
    “Todo bicho tem direito de ser feliz”.
    Se o homem vai gostar ou não, isso eu nem ligo.”“.
    “Agora às nossas leis, vejamos o que o estatuto diz”:

    O estatuto será eterno, ele esboça a nossa nação
    Seremos unidos e livres, amantes do sol e bondosos
    Verdade tem que ser palavra dita com vontade contra a opressão.
    Mas, se preciso seremos guerreiros ferozes contra os homens maldosos.”

    Agora dirijo a palavra a quem quiser dar a sua opinião.
    O porco tossiu, a gato miou, o touro mugiu
    E em toda floresta, um grande alvoroço discutindo a nova constituição.
    Até que, do alto de uma árvore, o macaco advertiu:

    – “Silêncio!!! Homens à vista! Tanques de guerra correm as ruas, em grandes formaturas!”
    Pedindo a palavra um homenzarrão:
    – “Como a mais saiba criatura, nós os homens, não vamos tolerar conjeturas!
    Esse planeta sempre foi assim: - Bicho na floresta e homens na mansão.”

    Cócórocordando o galo sugeriu, que bichos e homens, por um dia só, trocassem de vida;
    Ser cavalo debaixo de arreios e espora
    tendo ainda que marchar bonito, ou ao chicote, sem piedade e sem dor comovida.
    Ou ainda ser passarinho, comendo alpiste ou jiló e ter que cantar escondido nas grades de uma gaiola.


    O homem impaciente, bradou: – “não quero que seja assim!
    Tenho a bomba da destruição!
    Se preciso for, em tudo dou fim!”
    ...Houve então pleno silêncio com medo da explosão.

    Nesse ínterim, como um raio que arde na montanha,
    Ardeu o traseiro do pobre Rei Leão
    Era o chicote do seu domador, zurzindo com manha
    Que o acordava dessa ficção.

    Olhou para o picadeiro,
    Olhou para a platéia do circo lotado...
    Sonhando ser rei, acabou sendo prisioneiro
    E só aí sentiu que estava acordado...

    (urros, urros e mais urros...!)
    A. Carlos

    .........................................................

    Bichinho - memórias de uma aldeia que não existe mais.

    Na casa do vô José e na casa da tia Donda, o clima era festivo. No quintal da tia Donda, eu copiava a diligência com que eles retiravam a palha da espiga de milho até o sabugo, jogada dentro de um cesto à sombra dum pé de jabuticaba. Dali os grãos iam pra moenda e voltava o fubá amarelinho, amarelinho com pó de ouro... .
    Naqueles bancos de madeira, naquelas paredes de barro, naqueles trincos de madeira deviam estar as minhas pegadas, se o tempo não insistisse em apagar.
    “Bichinho’ quer dizer ‘Vitoriano Veloso’, hoje é uma pequena urbe. Mas ao recordar aquela aldeia, aperfeiçoo preciosas vinhetas guardadas na memória. Elas me suscitam emoções. É com elas, e com relativa ótica da subjetividade, que examino o mundo.


    Abraço, Fernanbas.
    E obrigado por me ceder este espaço.
    Seu irmão, Antônio Carlos.

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