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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

VADINHO DA SANFONA - O POETA DE CATAGUARINO








VADINHO DA SANFONA – O POETA DE CATAGUARINO        


Eu tenho a política correndo em minhas veias. Sempre tive. Desde que eu era criança em São João Del-Rey MG, em plena e vigorosa ditadura militar – onde a máquina do ESTADO colocou apenas dois partidos para simular uma “democracia”: a ARENA e o MDB – eu já fazia a minha escolha, indo mais à esquerda neste bipartidarismo.

Nas eleições de 2006 percorrendo CATAGUASES MG e seus distritos a favor da reeleição do PRESIDENTE-OPERÁRIO – Luiz Inácio Lula da Silva - eu tive a oportunidade de estar em um de seus arrabaldes chamado CATAGUARINO e lá chegando junto com a KOMBI do PT um senhor de nome Oswaldo Furtado de Mendonça, de 72 anos – caboclo da gema – chamou-nos a adentrar a sua humilde casa para tomarmos um cafezinho.

Descemos da Kombi e entramos no casario do senhor Vadinho da Sanfona – como era mais conhecido lá por aquelas bandas. De um cafezinho a outro ele nos mostrava várias peças antigas – revólveres, facas, sinos, arreios, freios para cavalos, chicotes, sua sanfona e seu cavaquinho.

Depois de um tempinho "bão" ele nos chamou a seu quarto e colocou uma fita K7 em seu pequeno gravador em que ele declamava um poema de sua autoria, que em sua homenagem e com muita honra coloco aqui no BUCÓLICO BICHINHO.


RIO PEQUENO

VADINHO DA SANFONA – CATAGUARINO
CAMPANHA PELAS ELEIÇÕES DE 2006.

Eu arriei meu cavalo
A tarde ‘tava escureceno
Pra roubar essa morena
Lá pras bandas do Rio Pequeno

  Ela tava me esperano
Nas horas que nóis marquemo
Fui chegando pertinho dela
Um beijinho de amor troquemo

Cheguei na casa dela
Meia-noite mais ou meno
Cabelinho dela briava
Moiadinho de sereno

Eu te amo moreninha
Em deus de quando nos conhecemo
Você disse que o amor não mata,
Mais de paixão ‘tou morreno

Eu dormino variava,
No sonho ‘tava te veno
Na hora da partida, sorrino
Ela foi dizeno:

- Oh que cavalo tão lindo
Que a ferragem vai bateno
Esse é meu baio tosado
Que no freio vai mordeno
Ele ‘tava adivinhano
Que ia posar no sereno

Ela perguntou o destino
Eu logo fui esclareceno
Nóis vamo pra Mato Grosso
Mais ninguém fica sabeno
Vamos gozar o nosso amor
Que a tempo nóis dois vem sofreno
Adeus casa do meu pai
Adeus chão do Rio Pequeno

Os galo ‘tão cantano
E o dia ‘tá amanheceno
Moreninha pintei o cabelo
Na beleza ‘cê faiz um cacho
Da laranja eu quero um gomo
Da lima quero um pedaço
Da sua boquinha um beijo
Do seu corpo um abraço

Eu quero dormir um sono
Deitadim no teu braço
Queria ser um canarinho
Que avoasse no espaço
Queira Deus que eu não
Te levo na garupa desse macho.


Oswaldo Furtado de Mendonça – Vadinho da Sanfona


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

LEVITANDO SOBRE OS TRILHOS E TRILHAS DO BICHINHO

  

   Tudo começava a ganhar esboço na véspera, mas sem muitos planos... O mínimo combinado saía meio que às pressas. Sem muita disciplina.  A verdade era que Degão já se tornara um expert no assunto e, portanto, pra quê tanta formalidade? Tudo era engendrado em sua cabeça. Um tino fenomenal para as coisas feitas sem o rigor das estratégias, porém, sob o cadinho de experimentações comprovadas...

   Maria Cardoso, a esposa dedicada - acostumada aos impulsos de Degão - também já tinha o seu jeito MARIA de fazer com que as coisas se desenvolvessem da melhor maneira possível, a fim de encaixá-las com o pensamento rápido de seu esposo.

   Vitoriano Veloso. O Bichinho. Este era o destino que sacudia a família Santos em épocas de férias escolares dos filhos. As do mês de Julho eram sempre as que ficavam detidamente guardada nas memórias dos meninos e meninas... Julho. São João d'EL-Rey. Inverno. Neblina. Maria-Fumaça... Os ingredientes da singularidade desta época estavam aí... 


foto by Kiko



   Em 1974 as estações do ano ainda cumpriam fielmente as suas peculiaridades. Gaia ainda não havia sido ferida de quase-morte... O inverno em d'EL-Rey era um espetáculo à parte: - um gélido frio, uma espessa bruma de neblina, a fumaça a sair pela boca ao conversar... Sobre gramas, flores e árvores; superfícies de carros e tudo o mais que ficava sob o tempo, uma película de gelo a denotar a que graus baixíssimos chegara a temperatura na madrugada...



foto by Kiko


   O mais novo dos filhos encontrava-se com 10 anos. Mas tinha a menina de seis. E o mais velho com 17. Aqui as diferenças de idades só se repercutiam mesmo quanto à rapidez nas traquinagens, porque em tudo o mais elas se horizontalizavam... 

   Degão estipulava para Maria que às 03:30 horas - geralmente de um sábado - todo mundo já deveria estar desperto a fim de que - no máximo até as 04:20h todos já se encontrassem no recinto da Estação Ferroviária da Estrada de Ferro Oeste de Minas - EFOM, porque exatamente às 05:00 horas a Maria-Fumaça dava o seu último apito a sinalizar sua saída com destino à Parada da Caixa D'Água da Boa Esperança - uma espécie de substação - nas proximidades de Prados MG. E assim era religiosamente cumprido.

   Dentro da EFOM - do lado do embarque - todos já estavam de posse de seus bilhetes de passagem para ocupar seus respectivos bancos em madeira amarronzada, sustentados por pilares em ferro trabalhados em desenhos florais de cor azulada.



   O apito choroso da locomotiva a vapor era sinal de festa para a família Santos, bem como para tantas outras que fariam o mesmo percurso ou que iriam até mais a frente. Eram soados em torno de uns 05 apitos tonitruantes... Apitos com direito a som - vapor e borrifos d'água... Degão, homenzarrão de aproximadamente 1,85m,  com seus possantes 120kg;  tez avermelhada e nariz avantajado era um verdadeiro filho da Itália, apesar de ter mesmo era sangue português correndo em suas veias. Ele era todo olhar em volta de sua prole. Um olhar apenas bastava para que Maria soubesse o que ele queria. Telepático. Um olhar investido do poder da voz rouca da cumplicidade conjugal... 

   Último apito.




   Degão ia contando a filharada, depois ajudava Maria e por último adentrava ao vagão. 




   A Maria-Fumaça começava a dar as suas primeiras e lentas chacoalhadas, harmonizando apitos, vapores e velocidade - tudo sobre os únicos trilhos de bitola estreita de 762mm em operacionalidade no mundo... E até os dias de hoje, o trajeto de aproximadamente 13 km entre São João d"El-Rey e Tiradentes ainda é sobre tais bitolas. Um verdadeiro patrimônio da humanidade. Lindo de se ver. Incrivelmente estreitas.





   E lá ia a serpente de ferro "fumegando, apitando e chamando os que sabem do trem"... Com as faces coladas nas janelas largas dos vagões os meninos e as meninas iam se deliciando com os painéis bucólicos a desfilarem cores e tons; nuances inimitáveis da mãe-natureza... Planícies e colinas entapetados pelo verde e habitados por cupins e bois... Os trilhos às vezes coincidiam com travessias curtas  - os pontilhões - que mantinham a locomotiva e todos os seus vagões suspensos sobre ribeirões ou despinhadeiros e que quando de sua passagem soavam um barulho infernal que subia do chão ao teto do trem.





   A parada da Caixa D'Água da Boa Esperança já podia ser avistada e os corações dos pequenos meninos e meninas da família Santos quase estouravam suas caixas toráxicas... Eles sabiam que a aventura estava por iniciar-se.




  Últimas chacoalhadas serpenteadas, últimos apitos e o barulho agudíssimo das rodas de aço a chisparem nos trilhos, freando o colosso ziguezagueado. A Maria-Fumaça ia parando... A imensa Caixa D'Água, apta a abastecer o vagão-reboque da quantidade de água necessária para o perfeito funcionamento de toda a locomotiva era admirada pela gurizada que saltitava de alegria por estar a caminho do Bichinho.




   Dali até a terra de Maria Cardoso eram mais uns 5Km. E não havia outro jeito senão o da caminhada... Ali sim!, entre veredas e arbustos com seus sobe-e-desce; com porteiras e mata-burros e muito cheiro silvestre o dia ganharia um pedaço da alma de todos. No meio do caminho a sempre temida, mas também, a mais esperada: A PONTE SUSPENSA POR CABOS DE AÇO SOBRE O RIO ELVAS.

Mas paremos a nossa aventura por aqui. Decerto Antônio Carlos,  MadamadaM, The Visitor e MMC terão algumas observações a fazerem... Mais à frente retornaremos. Aguardem!
   
  FERNANBAS
DEZEMBRO - PRIMAVERA DE 2011

  



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O BUCÓLICO BICHINHO - UM POUCO DA HISTÓRIA DA TERRA DE MARIA CARDOSO









O pequeno distrito de Vitoriano Veloso conhecido pelo codinome de Bichinho, surgiu em 1698 e, apesar de estar bem  mais próximo de Tiradentes(7Km), pertence mesmo é ao município de Prados(12Km), desde 1938.  Anteriormente a este ano o vilarejo pertencia ao município de Dores do Campo.




Retábulo-Mor Igreja NS PENHA DA FRANÇA 

A sua formação se intensificou com a descoberta de ricas lavras de ouro nos primeiros anos do século XVIII.



PINTURA TETO SOBRE O ALTAR IGREJA NS PENHA DA FRANÇA

O nome atual é uma homenagem ao inconfidente Vitoriano Gonçalves Veloso, negro, escravo alforriado e depois alfaiate que nasceu e viveu em Gritador (popularização de Gret'Douro - Greta de Ouro, Gruta de Ouro) - povoado limítrofe ao Bichinho.


ALTAR IGREJA NS PENHA DA FRANÇA

Vitoriano Veloso era mensageiro, vizinho e compadre de D. Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, uma milionária que investiu e participou ativamente no movimento revolucionário de Minas Gerais: Inconfidência ou Conjuração Mineira. Outras duas mulheres da região que também podemos citar com participações nesse Movimento de Independência do Brasil  são Bárbara Heliodora e Maria Dorotéia(amada do poeta e inconfidente Tomáz Antônio Gonzaga - que segundo alguns críticos teve importância em sua constiuição poética, que acabou gerando a importantíssima peça lírica do arcadismo português: - Marília de Dirceu).


PINTURA SOB O TETO IGREJA NS PENHA DA FRANÇA 

O Bichinho recentemente descobriu novas lavras de ouro - ouro ainda mais nobre e inesgotável: - AS VERTENTES ARTÍSTICAS. Essa nova descoberta fez o povoado, juntamente com sua comunidade, renascerem.


ATELIER GAYA

E tem sido  justamente através das artes em suas nuances multifacetadas que o lugarejo vem se desenvolvendo, descobrindo a cada dia novos talentos em diversos tipos dessas manifestações artísticas.


ARTESANATO DO BICHINHO

Ao visitarmos o Bichinho poderemos vislumbrar criações espetaculares em móveis, objetos de decoração, quadros, painéis, santos, bonecos, animais, luminárias, roupas... Também ficaremos encantados com trabalhos em papel machê, doces em intensa diversidades - feitos com retoques artesanais -  com suas compotas de frutas da época, canudinhos, roscas e biscoitos deliciosos.


ARTESANATO DO BICHINHO

O povoado é uma seqüência de casas antigas que servem tanto como residências quanto como oficinas, ateliês e lojas de artesanatos.




O Bichinho agora se orgulha de ser uma das grandes concentrações de artesãos do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes. A criatividade e simplicidade desses artesãos chamam a atenção dos visitantes. As peças e pinturas nascem do aproveitamento de material de demolição, madeira, ferro, lata, plásticos e tecidos de algodão. A qualidade das peças é que garante as exportações para vários estados do país e até para o exterior.


ARTESANATO DO BICHINHO

Hoje, o Bichinho é conhecido também no setor gastronômico, graças ao excelente trabalho que a comunidade vem desempenhando, com restaurantes que primam pela típica comida mineira.



RESTAURANTE TEMPERO DA ÂNGELA - A TÍPICA COMIDA MINEIRA

O histórico povoado que hoje conta com aproximadamente 1000 moradores e 100 artesãos fica a aproximadamente 20km de São João D'El-Rey; 7km de Tiradentes e - em relação à Prados com acesso pela estrada de terra - dista em 12km. Todos os percursos são emoldurados pela magnífica e encantadora Serra de São José.


SERRA DE SÃO JOSÉ(TIRADENTES) COM SEUS 5 MIL HECTARES DE EXTENSÃO
 





Fonte para construção do Texto: http://www.lazereaventura.com/ver_cidade.php?id_cidade=1
                                           http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/m/marilia_de_dirceu



ORIGEM DO CODINOME BICHINHO

Há algumas especulações acerca do surgimento do codinome BICHINHO para - literalmente - tomar o lugar do nome oficial do povoado de VITORIANO VELOSO.

Há quem diga que o próprio Vitoriano Gonçalves Veloso - negro alforriado - mantinha consigo alguns outros negros sem a carta de liberdade e - quando a eles se referia - chamava-os de "MEUS BICHINHOS".

Outra versão cabocla é a de que era IMPOSSÍVEL findar o trajeto que ligava o lugarejo à então Vila São José D'el-Rey(Tiradentes) sem se impregnar dos famigerados e cosquentos "Bichinhos" de pé.

Outra nos dá conta de que foi por conta da numerosa presença de porcos soltos em suas ruas.

Há ainda uma outra que nos narra que por estar a região numa remanescência da Mata Atlântica - em arredores da Serra de São José(ou de Tiradentes) -  era comum a convivência de seus moradores com animais de pequeno porte como: micos-estrela, lobos-guará, onças jaguatiricas e tatus - dentre outros - que habitavam a região e transitavam pelo povoado.    

O fato é que - perambulando pela rica Zona das Vertentes - o viajor achará dificuldades em localizar VITORIANO VELOSO; fato que logo, logo, se dissipará quando optar por seu codinome BICHINHO.


TV TAM NAS NUVENS APRESENTA: O BICHINHO